13 de março de 2010

Os impactos psicológicos do trabalho atual

UFF e sindicato dos bancários juntos no Projeto de extensão: “Agenciamentos coletivos: SUS e saúde do trabalhador em debate”.

OS IMPACTOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO ATUAL
Marilene Verthein

Encontro de 18 de junho,2009

No cenário econômico atual onde se busca a ampliação da qualidade e competitividade dentro das empresas há uma constante pressão na busca da perfeição, exigindo do trabalhador a necessidade de estar constantemente se adaptando às exigências do mercado e da empresa, os quais requerem um trabalhador polivalente. Desta forma, foi sendo produzido uma ideologia que valorizando o mercado, coloca o trabalhador na posição de força de trabalho, como se fosse uma simples engrenagem dessa grande máquina que é o mercado. Assim, considerando a racionalidade do sistema, é valorizado o entusiasmo, a energia e a velocidade das ações, onde todos devem estar felizes e satisfeitos, condenando toda forma de expressão de insatisfação com o trabalho ou até mesmo sofrimento, seja ele psíquico ou físico. Esse sistema de reestruturação produtiva onde um único trabalhador realiza atividades que deveriam ser realizadas por dois ou mais funcionários produz a incompetência do mesmo. Isso porque naturalmente o trabalhador fica sobrecarregado e dificilmente dá conta do trabalho atribuindo ao próprio corpo a incapacidade de exercer a tarefa.

Nesta situação, o sofrimento se explica como uma simples questão de adaptação, como algo individual, isto é, o adoecimento diz respeito ao trabalhador, nada tem a ver com as condições de trabalho, é aquele trabalhador específico que não está adaptado. Dessa forma, para os problemas relacionados com o trabalho são adotadas
soluções individuais, como por exemplo, a medicalização, banalizando assim o sofrimento nas relações de trabalho. No entanto, tal ideologia do contentamento não se faz sem efeitos.
Essa hipervalorização da satisfação faz com que cada trabalhador oculte seu mal-estar, suas decepções e tudo mais que lhe incomode no trabalho, fazendo-o não reconhecer seu sofrimento e também o de seus colegas de trabalho. Essa dificuldade em expressar e distinguir sentimentos se torna, então, uma forma de defesa no trabalho, isto é, para não se deparar com um trabalho que adoece e gera sofrimento, o trabalhador acaba não reconhecendo seu desgaste como sendo do trabalho. Assim, mediante a questão da competência na qual um trabalhador trabalha por vários, observa-se que chega um ponto onde o próprio corpo daquela pessoa não agüenta mais, porém ao invés de reconhecer que as condições de trabalho conduziram a tal desgaste, o trabalhador se vê como fraco, mesmo sabendo da impossibilidade de alcançar tal meta. Já diante do sofrimento dos outros prevalece a indiferença, o que
leva à discriminação daquele que adoece, pois agora este não é reconhecido mais como trabalhador, mas como doente ou até como aquele que está fazendo “corpo mole” para não trabalhar, o que novamente joga o problema para o trabalhador, tirando o foco das condições de trabalho.


Esse embotamento afetivo além de gerar prejuízos na vida e relacionamentos pessoais, também produz incapacidade de se envolver no trabalho, o que acaba levando a um paradoxo, pois enquanto as empresas estimulam o comprometimento do trabalhador com a organização, cada vez mais essa insensibilização produz trabalhadores apáticos e incapazes de se implicar. Isto ocorre, pois, mediante uma organização que é alheia ao trabalhador, não lhe permitindo exercer controle sobre essa, nem expressar seus sentimentos, há uma inibição do envolvimento afetivo com esse trabalho, ou seja, esse se torna sem sentido, impossibilitando o comprometimento com relação ao trabalho e até mesmo com relação aos colegas, tornando inviável uma cooperação solidária na resolução de problemas e inovações criativas.
Desta forma, observa-se que essa meta por excelência causa prejuízos não só para o trabalhador, mas também para a própria empresa, sendo imprescindível para ambos a adoção de uma organização que valorize não somente a informatização, mas o valor e função desta em sua interdependência com as pessoas que ali trabalham. Dito de outra maneira, adotar uma forma de trabalho que considere os protagonistas da atividade, suas insatisfações, idéias e o trabalho real realizado, reconhecendo os valores humanos ali presentes e estimulando a cooperação entre os trabalhadores proporcionaria maior qualidade para a empresa, além de trabalhadores mais saudáveis e comprometidos com o seu trabalho. Outrossim, é importante pensar na construção de um espaço de discussão onde os trabalhadores pudessem ter maior consciência da correlação de forças que estão presentes e definem suas atividade, possibilitando assim a coletivização das questões relacionadas ao trabalho, fortalecendo assim o laço entre os trabalhadores, permitindo então a conquista de maior autonomia e a transformação das situações de trabalho.

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